Arqueólogos
descobrem grandes áreas urbanas na Amazônia pré-histórica
Grupo
encontrou 'cidades' de 700 anos cercadas com muralhas e fossos.
Comunidades
lembravam assentamentos medievais ou da Grécia Antiga.
Grupo
encontrou 'cidades' de 700 anos cercadas com muralhas e fossos.
Comunidades
lembravam assentamentos medievais ou da Grécia Antiga.
Tire
da sua cabeça a velha idéia de que a Amazônia antes de Cabral era
um grande vazio, um monte de "mato" com duas ou três
tribos indígenas vagando ao léu. Essa visão está indo por terra
há tempos, e acaba de levar uma nova pancada num artigo científico
publicado nesta sexta (29). Pesquisadores americanos e brasileiros
estudaram a região do Alto Xingu, em Mato Grosso, e acharam
indícios de uma rede de assentamentos urbanos defendidos por
muralhas e fossos, unidos por largas estradas e organizados em torno
de centros rituais que lembram os que ainda são usados pelos índios
da área. Trechos do Xingu que hoje parecem mata virgem ainda
guardam, na verdade, as cicatrizes de "cidades" perdidas de
700 anos, afirmam os cientistas em pesquisa na revista
americana "Science" .
As
aspas em torno da palavra "cidades" são
necessárias porque, ao que parece, os ancestrais dos índios
cuicuros e outros povos do Alto Xingu não usavam o espaço da
maneira urbana tradicional, empacotando grande quantidade de casas
num só lugar. Em vez de um conjunto de arranha-céus, seus
assentamentos estão mais para um condomínio fechado com vasta área
verde. Eles combinavam uma sucessão de vilas, unidas por estradas
(as maiores com até 50 m de largura), com trechos entremeados de
lavouras de mandioca, florestas manejadas e mata virgem.
"O
problema é que, se você acha esse tipo de coisa na Europa, é uma
cidade. Se você acha isso em outro lugar, tem de ser outra coisa",
explicou em comunicado oficial o arqueólogo americano Michael
Heckenberger, coordenador da pesquisa, que trabalha na Universidade
da Flórida em Gainesville. "Elas têm planejamento e
organização incríveis, mais do que muitos exemplos clássicos do
que as pessoas chamam de urbanismo", diz Heckenberger. O
arqueólogo trabalhou, no Xingu, junto com especialistas como os
antropólogos Carlos Fausto e Bruna Franchetto, do Museu Nacional da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, e com Afukaka Kuikuro, da
tribo dos cuicuros, que também assina o estudo.
Polêmica
de terminologia à parte, o certo é que, para os pesquisadores, as
comunidades urbanas do Mato Grosso pré-Cabral tinham mais ou menos o
tamanho de uma cidade média da Grécia Antiga (Esparta, por exemplo,
que era relativamente modesta) ou da Idade Média (Coimbra na época
em que o reino de Portugal foi fundado, digamos). Tais como essas
comunidades antigas, as "cidades" do Xingu se organizavam
em torno de uma praça central, com cerca de 150 m de comprimento,
que servia para reuniões e atividades religiosas rituais.
Segundo
Heckenberger, os assentamentos estavam organizados de forma
hierárquica, com "cidades" centrais maiores e vilas
subordinadas, dispostas a poucos quilômetros de distância umas das
outras, de maneira que uma caminhada de 15 minutos era suficiente
para ir de um local a outro. As estradas que cortavam os
conglomerados de assentamentos se organizavam de acordo com
princípios astronômicos simples, orientando-se de nordeste para
sudoeste.
Na
região estudada pelos cientistas com a ajuda de aparelhos de GPS e
guias indígenas, os assentamentos parecem ter se organizado em duas
"ligas" de "cidades" e vilas, cada uma com
território de uns 250 quilômetros quadrados e população combinada
de 50 mil pessoas. Além das muralhas (feitas com paliçadas), fossos
e estradas, elas eram servidas por infraestrutura de pontes, diques
para captura e manejo intensivo de peixes e canais usados para o
transporte via canoa lado a lado com as estradas.
Culpa
de Cabral?
Toda
essa complexidade urbana e social traz à baila a questão
inevitável: o que aconteceu? Como a região deu lugar às aldeias e
tribos relativamente modestas de hoje? O que os arqueólogos sabem é
que o apogeu das "cidades" do Xingu foi de 700 a 500 anos
atrás. Coincidência ou não, o período se encerra com a chegada
dos europeus à América do Sul.
Acredita-se
que o declínio das populações indígenas no continente esteja
fortemente associado às doenças européias, contra as quais seu
organismo não tinha imunidade, e as epidemias de varíola, peste
bubônica e outras moléstias apareciam mesmo entre povos que
não tinham tido contato direto com os colonizadores -- bastava se
encontrar com outros nativos já infectados. Por isso, é bem
possível que esses males estejam por trás do fim do urbanismo
amazônico.
Fonte:
G1.com
Tire
da sua cabeça a velha idéia de que a Amazônia antes de Cabral era
um grande vazio, um monte de "mato" com duas ou três
tribos indígenas vagando ao léu. Essa visão está indo por terra
há tempos, e acaba de levar uma nova pancada num artigo científico
publicado nesta sexta (29). Pesquisadores americanos e brasileiros
estudaram a região do Alto Xingu, em Mato Grosso, e acharam
indícios de uma rede de assentamentos urbanos defendidos por
muralhas e fossos, unidos por largas estradas e organizados em torno
de centros rituais que lembram os que ainda são usados pelos índios
da área. Trechos do Xingu que hoje parecem mata virgem ainda
guardam, na verdade, as cicatrizes de "cidades" perdidas de
700 anos, afirmam os cientistas em pesquisa na revista
americana "Science" .
As
aspas em torno da palavra "cidades" são
necessárias porque, ao que parece, os ancestrais dos índios
cuicuros e outros povos do Alto Xingu não usavam o espaço da
maneira urbana tradicional, empacotando grande quantidade de casas
num só lugar. Em vez de um conjunto de arranha-céus, seus
assentamentos estão mais para um condomínio fechado com vasta área
verde. Eles combinavam uma sucessão de vilas, unidas por estradas
(as maiores com até 50 m de largura), com trechos entremeados de
lavouras de mandioca, florestas manejadas e mata virgem.
"O
problema é que, se você acha esse tipo de coisa na Europa, é uma
cidade. Se você acha isso em outro lugar, tem de ser outra coisa",
explicou em comunicado oficial o arqueólogo americano Michael
Heckenberger, coordenador da pesquisa, que trabalha na Universidade
da Flórida em Gainesville. "Elas têm planejamento e
organização incríveis, mais do que muitos exemplos clássicos do
que as pessoas chamam de urbanismo", diz Heckenberger. O
arqueólogo trabalhou, no Xingu, junto com especialistas como os
antropólogos Carlos Fausto e Bruna Franchetto, do Museu Nacional da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, e com Afukaka Kuikuro, da
tribo dos cuicuros, que também assina o estudo.
Polêmica
de terminologia à parte, o certo é que, para os pesquisadores, as
comunidades urbanas do Mato Grosso pré-Cabral tinham mais ou menos o
tamanho de uma cidade média da Grécia Antiga (Esparta, por exemplo,
que era relativamente modesta) ou da Idade Média (Coimbra na época
em que o reino de Portugal foi fundado, digamos). Tais como essas
comunidades antigas, as "cidades" do Xingu se organizavam
em torno de uma praça central, com cerca de 150 m de comprimento,
que servia para reuniões e atividades religiosas rituais.
Segundo
Heckenberger, os assentamentos estavam organizados de forma
hierárquica, com "cidades" centrais maiores e vilas
subordinadas, dispostas a poucos quilômetros de distância umas das
outras, de maneira que uma caminhada de 15 minutos era suficiente
para ir de um local a outro. As estradas que cortavam os
conglomerados de assentamentos se organizavam de acordo com
princípios astronômicos simples, orientando-se de nordeste para
sudoeste.
Na
região estudada pelos cientistas com a ajuda de aparelhos de GPS e
guias indígenas, os assentamentos parecem ter se organizado em duas
"ligas" de "cidades" e vilas, cada uma com
território de uns 250 quilômetros quadrados e população combinada
de 50 mil pessoas. Além das muralhas (feitas com paliçadas), fossos
e estradas, elas eram servidas por infraestrutura de pontes, diques
para captura e manejo intensivo de peixes e canais usados para o
transporte via canoa lado a lado com as estradas.
Toda
essa complexidade urbana e social traz à baila a questão
inevitável: o que aconteceu? Como a região deu lugar às aldeias e
tribos relativamente modestas de hoje? O que os arqueólogos sabem é
que o apogeu das "cidades" do Xingu foi de 700 a 500 anos
atrás. Coincidência ou não, o período se encerra com a chegada
dos europeus à América do Sul.
Acredita-se
que o declínio das populações indígenas no continente esteja
fortemente associado às doenças européias, contra as quais seu
organismo não tinha imunidade, e as epidemias de varíola, peste
bubônica e outras moléstias apareciam mesmo entre povos que
não tinham tido contato direto com os colonizadores -- bastava se
encontrar com outros nativos já infectados. Por isso, é bem
possível que esses males estejam por trás do fim do urbanismo
amazônico.
Fonte:
G1.com
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